domingo, 20 de fevereiro de 2011

Os donos da rua

Vias de BH, apesar de serem públicas, têm o acesso controlado e só moradores têm passagem livre. Mas há permissão da Prefeitura para fechar as ruas com cancelas e portões e colocar guaritas com vigilantes

Não tente entrar na Rua Alcides Pereira Lima, no Bairro Comiteco, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, sem carteira de identidade. E nem pense em ver o monumento que existe na Praça Sebastião Paes de Almeida, no Bairro Mangabeiras, também na Centro-Sul da capital, se não estiver com documentação. Esses lugares, assim como as ruas do Conjunto Habitacional Santos Dumont, no Bairro Carlos Prates, Região Noroeste, apesar de serem públicos, têm o acesso controlado. Só moradores têm passagem livre. São os "donos da rua", mas não estão irregulares. Têm permissão da Prefeitura para fechar as vias com cancelas e portões e colocar guaritas com vigilantes para verificar quem deve ou não se identificar. Em troca, ficam responsáveis pela conservação e manutenção do local. Em alguns casos, podem ter que fazer obra na cidade como contrapartida. Se é bom para eles e para a Prefeitura, a existência de bloqueios não agrada a vizinhança.


Ao chegar à Rua Alcides Pereira Lima, a reportagem se deparou com um portal com duas passagens - para quem entra e para quem sai. O local possui guarita com vigilância 24 horas por dia e cancelas. A equipe foi impedida de entrar com veículo no local. O segurança informou que só poderia autorizar pessoas a pé e que estava cumprindo ordens. Em seguida, pediu documento de identidade da repórter e do fotógrafo para que fizesse a reprodução por uma câmera.


Depois dos procedimentos exigidos, a equipe entrou. O motorista ficou do lado de fora com o carro. Dentro, a vista é de uma via deserta, arborizada, que termina na Serra do Curral. São três residências que ocupam todo o espaço. O lado direito, para quem está entrando, é tomado por uma única casa. Na parte esquerda, duas mansões. No meio da mata da serra, cercas com câmeras que vigiam a circulação de pessoas.


O representante da Associação dos Moradores da Rua Alcides Pereira Lima, Sebastião Bolleli de Souza, informou que houve erro na abordagem do segurança do local, que não poderia ter impedido a entrada do veículo. Segundo ele, o problema foi corrigido, e a empresa de vigilância foi informada, por ofício, que é autorizada a entrada no local, desde que a pessoa apresente a documentação. Segundo ele, as três famílias que tomam conta da rua hoje doaram equipamentos de incêndio para a brigada da Serra do Curral e cuidam da manutenção e conservação do espaço para terem o direito de controlar o acesso à via. "Todos os seguranças e vigias foram treinados para combater incêndios e já ajudaram em vários casos na Serra do Curral".


Um dos moradores da rua é o empresário Bruno Luciano Henriques, 39 anos. Segundo ele, foi pedida autorização para fechar a rua por questão de segurança. "Vinha muita gente para cá para namorar. Outros subiam para usar drogas. Tinha gente que provocava incêndio na serra", diz. De acordo com o empresário, a via não dá acesso a lugar nenhum e, por isso, a instalação do acesso controlado. "Dá uma segurança maior para a gente", destaca. Para Bruno Henriques, a medida foi melhor para todos porque a Prefeitura não precisa mais fazer manutenção no local. Ele acredita que não há desrespeito ao direito de ir e vir pelo fato de o acesso ser permitido após a identificação.

Mas a dona de casa Marilena Andrade, 70 anos, que mora no bairro, disse que já tentou entrar no local para ver como era e foi impedida. Para a psicóloga Sônia Macedo, 50 anos, que mora em rua próxima, as cancelas não incomodam. "Para quem mora lá, é bom, mas, para a gente, não faz diferença".


No Bairro Mangabeiras, em frente ao Minas Tênis Clube, existe outro portão com cancela. É na entrada do Bairro Mangabeiras III, mais conhecido como Clube dos Caçadores. No chão, duas inscrições: "visitantes" e "moradores". Quem mora no local passa livremente, mas os que são de fora têm que mostrar a identidade para os seguranças que ficam na guarita. Todo mundo pensa que a área é um condomínio fechado e, por isso, deixa de tentar entrar.

Assim, deixam também de saber que, lá, existe uma praça pública, a Sebastião Paes de Almeida, onde está fixado um totem feito pelo artista indígena canadense Francis Horne. Foi um presente do Governo do Canadá a Belo Horizonte pelo aniversário de cem anos, em 1997.


Na última terça-feira, por volta das 10 horas, quando a reportagem esteve no local, a praça estava vazia, embora tenha bancos para as pessoas sentarem e apreciar a vista da Serra do Curral. De acordo com o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Mangabeiras III, José Diogo Braga, o local é muito frequentado, mas, ele alega que no horário em que a equipe esteve lá não ficam muitas pessoas.

Segundo Braga, o controle do acesso tem funcionado bem para os moradores. O presidente da associação lamenta apenas não poder proibir a entrada de veículos. "Não acho certo as pessoas entrarem aqui e deixarem os carros para a gente tomar conta", destaca. Apesar de ser contra, ele informa que a lei - que permite o acesso a qualquer pessoa, sem especificar o meio de transporte que está usando - está sendo cumprida.

Cancela questionada na Justiça


No entanto, a cancela no Clube dos Caçadores ainda é tema na Justiça. Existe uma ação popular, apresentada pelo advogado Bernardo Lopes Portugal e outras 12 pessoas, que tenta retirar a autorização dada pela Prefeitura para a instalação do acesso controlado. Segundo ele, há "aborrecimentos" para as pessoas que tentam entrar no local. "Quando vão de carro, têm que descer do veículo para ir à guarita se identificar", exemplifica.

De acordo com o advogado, o que motivou a ação popular foi o "absurdo jurídico de privatização do espaço público, sem justificativa legal, sem discussão com a comunidade, sem indenização". Segundo ele, a área tem equipamentos públicos, como poste e praça e mais de 400 vagas de estacionamento, que ficam sujeitas ao controle dos moradores locais.

O advogado que representa a ação popular, Mateus Almeida, informou que, em primeira instância, a decisão foi favorável aos que contestam a cancela. O processo está em revisão e pronto para ser apreciado em segunda instância. Segundo ele, a lei fez com que quatro ruas públicas e dez mil metros quadrados de área fossem privatizados em favor de 52 residências. "São famílias que não precisam de ajuda da Prefeitura para se proteger", diz. De acordo com o advogado, a permissão da cancela também infringe o direito constitucional de ir e vir e estabelece regras de condomínio fechado para uma área que não tem essa característica.

As opiniões de quem frequenta a região não são muito favoráveis aos moradores da área fechada. A aposentada Aparecida Marra, 72 anos, sócia do clube, diz que prefere não colocar o carro dentro da área porque a exigência da documentação faz com que se forme uma fila grande para entrar. "Achava que lá era condomínio fechado", diz. O servidor público André Cordeiro, 45 anos, afirma ser contra o fechamento. "Isso não existe", afirma. O advogado Rogério Baeta, 42 anos, tem a mesma opinião. "Isso é proibido, mas, no Brasil , não se respeita a lei".

No Conjunto Santos Dumont, no Carlos Prates, a existência de portões, cancelas e controle de circulação nas seis ruas que dão acesso ao local também é motivo de discussão. Moradores da Rua Riachuelo, que corta o conjunto, reclamam do cercamento. De acordo com a funcionária pública Renata Mendes Coelho, 39 anos, os portões são obstáculos para as pessoas. "Farmácia, padaria, supermercado. Tudo fica do outro lado. Para a gente chegar lá, tem que dar a volta em todo o conjunto, com morros pesados para subir", afirma. Segundo ela, quem não reside em um dos apartamentos ou é convidado pelos moradores não pode entrar. A comunidade do entorno do Santos Dumont fez um abaixo-assinado e entrou com processo na Prefeitura e na Justiça para tentar retirar os bloqueios.


O síndico geral do conjunto, Luiz Afonso Rosa de Oliveira, informou que os moradores da Rua Riachuelo não precisam pedir para reabrir a rua naquele ponto porque têm acesso para atravessar. "Não atrapalha em nada. Pelo contrário, dá mais segurança para quem está passando", diz. Segundo ele, só é pedida identificação de desconhecidos. O síndico informou que, para liberar a rua, seria necessário destruir uma praça que foi construída pelos condôminos. De acordo com Oliveira, o fechamento do conjunto foi necessário devido à ocorrência de atos de vandalismo e violência no local quando era aberto.


Outros dois conjuntos habitacionais de Belo Horizonte conseguiram decreto municipal que autoriza o acesso controlado às vias. Um fica no Bairro Horto e, o outro, no Gameleira. O do Horto, Waldemar Diniz Henriques, teve a permissão de controle da Rua Januário Laurindo Carneiro revogada pela Prefeitura. De acordo com a secretária Municipal de Regulação Urbana, Gina Rende, houve verificação posterior que demonstrou que havia duas entradas no local, o que contraria as características exigidas para que a cessão seja concedida. Mesmo assim, a briga dos moradores para fechar a área continua.


Eles entraram com ação na Justiça para tentar reaver o direito de fechar a rua. De acordo com a subsíndica do conjunto, Cinira Pereira dos Santos, o objetivo é reduzir a frequência de pessoas desconhecidas e de atos de violência. "Tem gente que rouba carro lá fora e põe aqui. Tem gente que entra para usar drogas", diz. Ela conta que houve um assalto próximo e ladrões foram para o local em fuga, perseguidos pela polícia. "Virou uma praça de guerra", lembra.


Um grupo de moradores das ruas Frederico Incalado e João de Queiroz, que são continuação da Januário Laurindo Carneiro pela lateral do conjunto, é contrário ao bloqueio. De acordo com o corretor de imóveis João Batista Tavares, que mora na Frederico Incalado, se for autorizado o fechamento, serviços públicos, como coleta de lixo, serão inviabilizados. "Não tem como um caminhão de lixo manobrar aqui".
João Tavares acredita que os moradores vão ficar encurralados sem a passagem. "Eles fecham para a segurança deles e atrapalham a nossa", afirma. Segundo o comerciante João Eustáquio de Queiroz, 63 anos, que mora na João de Queiroz, o processo foi arquivado com ganho de causa para o não bloqueio da via, mas os residentes do conjunto tentam reabrir com novas documentações. "Sou contra o fechamento de ruas em qualquer situação. A rua é pública", afirma.


No Gameleira, o conjunto que tem a autorização é o Henrique Silva Araújo. Porém, os acessos não estão fechados. A reportagem tentou contato com o síndico geral, José Lázaro, mas não conseguiu. Uma funcionária da portaria informou que as cancelas não foram colocadas porque não houve concordância de todos os moradores.


Direito se aplica apenas a ruas sem saída


O acesso controlado em ruas públicas é autorizado pela Lei 8.768/2004, resultado de um projeto de lei da ex-vereadora Neila Batista (PT). A ideia é que, em vias sem saída, possa ser instalado o mecanismo, desde que não seja proibida a passagem de pessoas. A lei autoriza a exigência de identificação para que um cidadão possa transitar pelo local.


A ex-vereadora informou que, depois da sanção da lei e diante dos problemas gerados por causa da legislação, apresentou outro projeto de lei para tentar revogar a 8.678. No entanto, a legislatura anterior terminou, e o projeto foi arquivado por não ter sido votado. Só voltaria à tramitação se outro vereador o reapresentasse, o que não aconteceu. "Houve confusão e muitas pessoas entenderam que era apropriação privada do espaço público. Se estava provocando tanto incômodo, tentamos revogar", observa. Ela contou que entrou com a primeira proposta para atender conjuntos habitacionais, que ficavam prejudicados pela escassez de serviços públicos. Assim, poderiam assumir a manutenção dos locais. "A intenção era totalmente outra", afirma. Para Neila Batista, a lei não se aplicaria em áreas nobres, que passam a ter condição de condomínio fechado.


Apesar de ter cinco decretos publicados autorizando o fechamento das ruas e ter demanda de áreas que desejam ter a mesma permissão, a Prefeitura demonstrou ter total descontrole sobre o assunto. A reportagem procurou secretarias e órgãos municipais, durante toda a semana, para saber quem responde sobre o tema, mas constatou que, hoje, essa figura não existe.


Os decretos foram assinados em 2004 e 2007 pelo prefeito e os responsáveis pelas secretarias de Governo e Administração e Recursos Humanos na época. De acordo com a secretária Gina Rende, as regionais são responsáveis por fiscalizar o cumprimento das contrapartidas determinadas pelo decreto. Mas a Regional Centro-Sul informou, por meio da assessoria de imprensa, que não tem atribuições ligadas às ruas com cancelas.


Para o presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Mário Lúcio Quintão, o fechamento das ruas fere a liberdade de circulação das pessoas e é uma forma de discriminação. Além disso, observa que a rua é um bem inalienável, que não poderia ser cedido ao uso privado.


A professora de Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da UFMG, Mariá Brochado, acredita que a lei não tem elementos que ferem a Constituição. "A concessão do direito real de uso é uma forma de o governo economizar, já que os moradores é que vão ficar responsáveis pela conservação dos espaços", diz.

http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/os-donos-da-rua-1.40827

Privatização de espaços públicos

A retomada de áreas públicas ocupadas irregularmente é uma boa iniciativa tomada pela Prefeitura, porque ao mesmo tempo que elimina um abuso - a utilização por particulares, em seu proveito, de bens que pertencem à comunidade - aumenta o número de praças e parques, nas quais a maioria daqueles terrenos é transformada.

Apenas no período compreendido entre janeiro de 2008 e julho deste ano, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras retomou 266 mil m2 de áreas naquela situação, como mostra reportagem do Jornal da Tarde. Como ela não tem ainda um banco de dados com a metragem exata do que foi recuperado num prazo mais amplo, é possível que na realidade o resultado do esforço da Prefeitura seja mais importante do que se imagina. Seria conveniente, pois, que o setor de patrimônio do governo municipal fizesse logo esse levantamento.

Segundo aquela secretaria, a recuperação de áreas em situação irregular, uma das bandeiras da atual gestão, tem o apoio da população. Seus responsáveis afirmam que, como há falta de áreas de lazer na cidade, sempre recebem pedidos para a retomada de terrenos.

A disposição da Prefeitura em agir com firmeza nessa questão e a boa receptividade das medidas que vem tomando deveriam levá-la a ampliar ainda mais o raio de sua ação, para coibir todas as formas de apropriação de bens públicos. Elas são as mais variadas possíveis - desde a ocupação de terrenos até o uso indevido de calçadas por bares e restaurantes, passando pelo fechamento de ruas e praças por grupos de moradores, que se julgam no direito de dispor desses espaços como se fossem seus.

Neste último caso, infelizmente, leis e decretos municipais dão base a essa prática e, por isso, a atual administração prestaria um grande serviço à população se revisse esses diplomas legais e usasse sua influência na Câmara Municipal para levá-la a fazer o mesmo. Os moradores desses locais têm ido além do que permite a legislação, impedindo a circulação de pedestres pelas ruas. Em resumo, estamos assistindo aí à privatização de espaço público, o que é inaceitável.

A tolerância com esse tipo de comportamento leva a outros abusos. A última novidade é a autorização que autoridades de trânsito têm dado a restaurantes para reservar um espaço, na frente de seus estabelecimentos, para embarque e desembarque de clientes. Se a moda pegar e todos os bares e restaurantes da capital - que na colocação de mesas nas calçadas já vão além do que é permitido - conseguirem esse privilégio, receberão com ele, de graça, o espaço de milhares de vagas de estacionamento.

A privatização de áreas públicas, como se vê, não se limita à ocupação de terrenos. http://txt.jt.com.br/editorias/2009/09/07/opi-1.94.8.20090907.1.1.xml

Moradora pede melhorias em parque infantil no bairro Santa Terezinha

Preocupada com a falta de segurança para as crianças do bairro Santa Terezinha, a moradora Solange Duarte procurou a reportagem do Jornal Diário solicitando melhorias para o parque infantil existente na esquina das ruas Padre Vieira e Dom João VI.
De acordo com ela, o espaço está praticamente abandonado há aproximadamente quatro meses, e os brinquedos estão quebrados oferecendo risco às crianças. “Há muitas crianças nesse bairro e este é o único lugar de lazer que elas podem freqüentar, mas nessas condições é impossível”, explicou a moradora.
O parque fica ao lado de uma quadra de Bocha e a reportagem constatou que as condições estão realmente muito precárias. Os balanços não possuem assentos, há um escorregador “jogado” em um canto, inutilizado, além de muito mato e sujeira no local e falta de torneiras no bebedouro.
“Nós do bairro gostaríamos que a prefeitura revitalizasse esse espaço, com a recuperação dos brinquedos, a manutenção mais frequente e a colocação de bancos e até mesmo um quiosque coberto para que as crianças tenham um espaço seguro para passar o tempo livre”, acrescentou Solange.
Questionada, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Santa Bárbara d´Oeste disse que a secretaria de Obras e Serviços informou que está no cronograma a reforma completa do parque infantil, incluindo a pintura e a recuperação dos brinquedos. Ainda segundo a assessoria, a previsão da pasta é de que o serviço esteja concluído até novembro.
http://www.diariosbo.com.br/anterior/2010/outubro/23/cidades.php

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Contra criminalidade, Goiânia destrói prédios abandonados

A Prefeitura de Goiânia (GO) começa na terça-feira a demolir construções abandonadas que oferecem riscos à população, conforme avaliação de órgãos públicos de saúde e de segurança. Atualmente, a capital goiana tem mais de 260 imóveis nessas condições, mas a Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (Seplam) decidiu iniciar a ação em 21 casas e prédios considerados "mais críticos".
A primeira construção a ser demolida é uma casa no setor oeste, região central da cidade, onde nos anos 80 e 90 funcionou uma boate. Tanto o diretor do Departamento de Fiscalização, Edificações e Invasão de Áreas Públicas da Seplam, Geso Oliveira, responsável por coordenar a operação, quanto o comandante do Policiamento da Capital, coronel José Divino Cabral, afirmam que local é um dos pontos mais complicados da cidade.
Moradores das imediações do imóvel - abandonado há mais de 10 anos - dizem terem testemunhados jovens consumindo drogas e cenas de sexo. "Aqui é um perigo. Dá medo andar pela rua à noite porque sempre tem umas pessoas suspeitas aqui", disse uma aposentada de 64 anos que não quis se identificar.
Também devem ser demolidas no mesmo dia um sobrado no setor Cidade Jardim (região oeste) e duas casas no setor Universitário (região leste), que estão na mesma situação. Oliveira afirma que a intenção da Prefeitura não é por destruir todos os 260 imóveis listados, mas fazer com que, após as primeiras demolições, os proprietários destas construções se mobilizem.
Outro imóvel que está na lista é um prédio de nove pavimentos, localizado na avenida Araguaia, em um dos pontos mais movimentados do centro de Goiânia. Neste local, os moradores dizem que é possível ver adolescentes invadindo o lote para usar drogas ou se reunirem.
Oliveira diz que, desde que a Prefeitura anunciou que iria demolir as construções abandonadas, 36 proprietários retiraram seus imóveis da lista após tomarem as providências necessárias, como limpar o lote, lacrá-lo ou disponibilizar segurança para impedir a entrada de pessoas não-autorizadas.
"Não é papel da Prefeitura demolir construções de terceiros. No entanto, precisamos adotar tais atitudes porque os proprietários não estão fazendo nada. Essas construções são áreas utilizadas para cometer crimes, usar de drogas e proliferar de doenças por causa da água acumulada e de sujeira", disse o diretor da Seplam.
O supervisor de Fiscalização de Obras e Edificações da Seplam, Luiz Dias da Costa, diz que a maioria dos imóveis listados pela prefeitura está abandonada por problemas de briga por herança. Ele cita o caso da antiga boate, onde os proprietários se dispuseram a fazer a demolição, mas desistiram.
"Os donos desses imóveis que estão na lista já responderam ações no Ministério Público, inclusive foram autuados ou multados uma, duas ou três vezes e não tomaram providências", disse.
Mais de 200 imóveis
Relatório feito pela PM no primeiro semestre deste ano aponta que mais de 200 imóveis são usados como esconderijo para criminosos, produtos furtados e roubados, por usuários de drogas, local de prostituição ou dormitório de pedintes.
Na mesma época, o Ministério Público Estadual entrou com três ações civis públicas contra a Prefeitura de Goiânia e alguns donos de imóveis. Mais de 15 outros processos tramitam no MPE. "A medida é louvável e vai ajudar muito no combate à criminalidade. Policiais agora terão mais tempo para agir em outras frentes, em vez de ficar vistoriando estes imóveis abandonados", disse coronel José Divino.
A demolição tem respaldo legal no Código de Posturas de Goiânia. Oliveira explica que os gastos são repassados aos proprietários, acrescidos de 20% de multa e outras taxas. "Teve dois casos em que os proprietários decidiram eles mesmos demolirem os imóveis, pois ficava bem mais em conta", disse. As multas podem chegar a R$ 20 mil.


http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4101397-EI8139,00.html

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vandalismo custa R$ 2 milhões aos cofres da Prefeitura de BH


Gasto anual com conserto e reposição de peças do patrimônio público é maior na Administração Regional Centro-Sul

Renata Galdino - Repórter - 29/06/2010 - 06:30

CRISTIANO COUTO
R$ 2 milhões. Este é o valor médio que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), de acordo com a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, gasta a cada ano para repor o que foi danificado por vândalos ao patrimônio público na capital. Somente na Regional Centro-Sul, a maior da cidade, são “perdidos” R$ 90.450 por mês. Por ano, quase R$ 1,1 milhão – mais de 50% dos gastos com os reparos em toda Belo Horizonte.

“Perdido” porque este dinheiro poderia ser investido, por exemplo, na ampliação e construção de unidades de saúde e escolas. E mais: os gastos podem ser muito maiores, pois atingem ainda outros órgãos além da administração municipal. No final, sempre pesa no bolso e no serviço prestado à população.

Exemplo clássico disso foi registrado no sábado (26) contra a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Com muita ousadia, ladrões roubaram quase 50 metros de cabo de cobre na subestação B, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, e causaram um curto-circuito. Os trens ficaram parados por 2h30, por falta de alimentação ao sistema de sinalização, e os usuários sem o meio de transporte. O prejuízo total ainda não foi calculado.

O roubo de cabos, que obriga os trens a circularem em velocidade muito abaixo da normal (de 80 km/h para 25km/h), e os danos a elevadores e escadas rolantes estão entre as ações mais recorrentes nas estações do metrô. “Estamos trocando os cabos de cobre para o tipo misto, com aço e cobre, que não têm valor comercial para os criminosos. O investimento inicial foi mais caro, mas a longo prazo não teremos os gastos com a reposição”, revela o gerente regional de Manutenção do Metrô-BH, Fernando Magalhães.

Quem também é alvo constante do roubo de fiação é a Cemig. De janeiro a junho deste ano, a empresa gastou R$ 1,9 milhão com a reposição de cabos, transformadores e equipamentos subterrâneos instalados em vias públicas. Até o final de 2010, a Cemig estima prejuízos de mais R$ 1,8 milhão com a reposição de material, totalizando cerca de R$ 3,7 milhões.

Não menos prejudicado também sai o motorista que precisa de placas de sinalização e até mesmo do semáforo. “A batida que amassa ou danifica um semáforo não deixa de ser vandalismo porque o motorista bate e vai embora”, enfatiza o gerente de Semáforos da BHTrans, Gabriel Gazolla. Nos primeiros cinco meses deste ano, já foram gastos cerca de R$ 98 mil com a reparação destes equipamentos, dos quais R$ 9 mil a empresa de trânsito tenta reaver na Justiça.

Já com o roubo e a depredação das placas de sinalização, os gastos de 2006 até maio deste ano foram em torno de R$ 158.572. Ontem, o HOJE EM DIA flagrou uma placa de identificação quase ao chão na esquina das ruas Gonçalves Dias e Santa Catarina, no Bairro Santo Agostinho. Para segurá-la, arame amarrado no poste. Em frente ao número 334 da Rua Guarani, no Centro da capital, uma placa de informação ao usuário do transporte coletivo estava pichada. Ao lado, uma lixeira totalmente depredada.

“Se preciso jogar o copinho que bebi água fora, tenho que caminhar até uma outra lixeira para não jogar no chão. Deve estar assim há mais de um ano, quando eu vim trabalhar aqui”, diz o comerciante João Luiz Lopes, 56 anos. Se o comerciante tem consciência de não deixar a cidade suja, o mesmo não se pode dizer de outras pessoas que passam por ali. A boca de lobo em frente está repleta de sujeira, como copos e saquinhos de salgadinhos.

Já na Avenida Bernardo Monteiro esquina com Rua Padre Rolim, no Bairro Santa Efigênia, o vandalismo registrado ontem pelo HOJE EM DIA é outro. Dos dois orelhões ali colocados para a população, apenas um funciona. O outro está quebrado e o fone, colado com fita isolante. Em nota, a OI informou que cerca de 8% dos 101 mil telefones públicos instalados em Minas Gerais foram danificados nos primeiros cinco meses de 2010. Mensalmente, cerca de 300 campânulas (redomas que protegem os telefones) são danificadas. Nem as placas de identificação de monumentos escapam. Na Avenida Augusto de Lima, o busto de Afonso Arinos está sem a plaqueta de identificação.


Destruir por simplesmente destruir ou roubar para conseguir uma renda extra: não importa. De acordo com o professor de Sociologia da PUC-Minas Juracy Amaral, o comportamento do vândalo demonstra uma negação da cidadania. “A pessoa não tem noção de que está prejudicando o bem que é dela. A noção de que o bem público não é do povo é uma tradição brasileira. Eles manifestam lapidando, estragando”, explica o especialista. O professor diz ainda que a maioria esmagadora dos vândalos é de classe menos favorecida.

“São pessoas excluídas, a vida pública não faz sentido para elas. Isso é perceptível ao analisar as praças da Estação e da Liberdade. A primeira só parou de ser depredada depois da revitalização”, comenta Juracy.

TEM BOI NESSA HISTÓRIA

Um prefeito do PMDB de Goiás impede e depois libera a construção de um aterro sanitário. Entre uma decisão e outra, houve a doação de dinheiro ao partido. Coincidência?

De tão estranhas ou mal conta­das, existem histórias que, apa­rentemente, só os políticos são capazes de produzir e que, de tão singulares, eles também se com­plicam muito na hora de explicar. Apa­recida de Goiânia é um município vizi­nho à capital de Goiás. Apesar da pro­ximidade com o centro do poder no estado, apenas quinze em cada 100 ca­sas dispõem de rede de esgoto, metade dos 442000 habitantes não recebe água tratada, os índices de criminalidade são elevados e a miséria grassa em bolsões onde famílias inteiras vivem em casa de papelão. O ex-senador e ex-gover­nador Maguito Vilela, um dos chefes do PMDB goiano e atual prefeito da cidade, afirma que decidiu trocar a vi­sibilidade da política nacional pelo de­safio de tentar reverter esses vergonho­sos indicadores sociais. "É uma cidade encardida, com muita coisa a ser feita", explica o prefeito. Talvez pelo fato de o município estar tão abandonado ou encardido - houve gente que vislum­brou ali o lugar ideal para abrigar um enorme aterro sanitário, com capacidade para receber lixo de toda a região, inclusive de Brasília. Uma empresa do ramo chegou a comprar uma fazenda para implantar o empreendimento. Maguito Vilela, porém, estava atento.

Alertado sobre a obra indesejada, o prefeito foi célere na defesa dos interesses de seus eleitores. Anunciou que o município tinha planos mais nobres para a área - e decidiu agir. Meses depois da chegada dos empreendedores, precisamente no dia 27 de agosto do ano passado, Maguito interrompeu sua participação na acirrada disputa eleitoral no estado e baixou um decreto declarando como área de utilidade pública para fins de desapropriação a fazenda Santa Rita de Cássia. As terras haviam sido compradas pela empresa paulista Geo Vision Soluções Ambientais e· Energia, que pertence ao grupo da Leão Leão, empreiteira especializada em uma multiplicidade de negócios de coleta de lixo urbano. "Eu desapropriei só para evitar que fizessem o aterro", diz o prefeito. No decreto, porém, Maguito escreve que o objetivo era usar a fazenda para ampliar o distrito industrial de Aparecida. Explica o ex-governador: "Eu só assinei, e não sei por que meus assessores escreveram isso. O objetivo era realmente impedir a construção do aterro".

Em novembro, encerradas as eleições, ocorreu um fato curioso: sem avisar ninguém, Maguito revogou o decreto, argumentando que o lugar da fazenda era inadequado para uma zona industrial. O aterro sanitário já podia ser construído, dependendo apenas de autorização de órgãos ambientais para funcionar. Parece contraditório, inexplicável, estranho - e é. A única coisa que aconteceu de diferente entre os 83 dias que separam a assinatura e a revogação do decreto foi uma doação de 300000 reais que a empresa Leão Leão fez ao comitê de campanha de Iris Rezende, o então candidato do PMDB ao governo de Goiás, que tinha Maguito como um de seus principais cabos eleitorais. A Leão ficou nacionalmente conhecida no rastro do escândalo do mensalão, quando surgiram evidências de que a empreiteira pagava propina a celebridades petistas. A doação da empresa à campanha peemedebista foi feita por meio de uma transferência bancária, em 30 de outrubro, um dia antes do segundo turno das eleições. Procurado, Iris Rezende não foi localizado. A Leão Leão informou que nunca conversou com o prefeito sobre doação ou qualquer outro assunto envolvendo a decisão municipal de considerar as terras de interesse público -que, aliás, considera arbitrária. O decreto de revogação da desapropriação da fazenda foi assinado por Maguito Vilela em 18 de novembro, dezenove dias depois da doação. O prefeito jura que uma coisa não tem nada a ver com a outra.